T: Para nosso primeiro item, nós temos: olhar para a preocupação. Eu sei que na última sessão nós fizemos a análise de custo e benefício onde a gente olhou a preocupação excessiva contra planejamento, preparação e resolução de problemas. Eu acho que nós podemos falar sobre as crenças sobre se preocupar... a gente não chegou a discutir sobre elas... tudo bem com você?
P: Sim...
T: Ok. Eu escrevi algumas das crenças que você tem sobre se preocupar, se encanar. Uma foi que “te ajuda a estar preparada”. O que nós podemos fazer é avaliar essa crença porque... como eu disse na sessão passada... essas crenças são as vantagens de se preocupar... e como você está tendo dificuldades de se desligar das preocupações... essas vantagens, na realidade, reforçam a “necessidade” de se preocupar. Ok. Essa ideia de que a preocupação me ajuda a ficar preparada... como você diria que ela te ajuda a se preparar?
P: Hum... eu acho que... que nem a gente já falou antes... o mundo é um lugar bem perigoso e eu acho que quando eu me preocupo, isso ajuda a me lembrar de fazer as coisas que eu preciso fazer para me manter segura. Até mesmo coisas simples, não necessariamente coisas ameaçadoras... como “vai chover”... eu posso pensar “Ok... vai chover e eu preciso lembrar do meu guarda-chuva”. E eu fico constantemente me lembrando disso para que eu fique preparada. Então, eu acho que se eu não tivesse preocupações eu ficaria presa em algumas situações porque não sei se eu conseguiria me lembrar das coisas que preciso fazer.
T: Ok. E esse exemplo do guarda-chuva é algo que aconteceu recentemente ou você consegue pensar em alguma situação que você se preocupou recentemente que levou à uma ansiedade elevada?
P: Essa do guarda-chuva aconteceu na semana passada. O que eu consigo lembrar dessa semana... é o que eu tipicamente faço com trabalhos por exemplo... de ficar constantemente lembrando eu mesma de checar e rechecar tudo porque eu não quero enviar nada para o professor com algum erro.
T: Se eu conseguisse entrar em sua cabeça e escutar os seus pensamentos de preocupação, como eles seriam?
P: Eles tipicamente são como... hum... “você precisa checar isso!” e depois vai mais profundo... “Se você não checar isso, você não vai parecer muito inteligente... vai parecer que não consegue fazer o seu trabalho bem feito”. E as vezes fica até pior “Se você não consegue fazer seu trabalho direito, você pode ficar com dependência”.
T: Então é “você precisa checar isso” e depois vai para aqueles cenários... piores cenários possíveis... “se você não checar isso, pode isso ou aquilo de ruim acontecer” e eu imagino que isso aumenta para todos esses cenários...s
P: É...
T: É... realmente gera bastante ansiedade e é bem desconfortável para você...
P: Sim...
T: Quando você está fazendo isso... você está fisicamente se preparando para fazer o trabalho?
P: Hum... normalmente, não. Eu estou apenas lembrando eu mesma para fazer essas coisas para depois...
T: Então... você diria que você está realmente se preparando pensando apenas nesses piores cenários possíveis?
P: Eu sinto que estou me preparando... é... só para garantir que eu faça a coisa direito.
T: Ok. Se eu pudesse te ver na sua casa antes de fazer um trabalho ou na faculdade pensando sobre o trabalho... com esses pensamentos... pareceria que você está se preparando?
P: Eu iria parecer como eu pareço agora... então acho que não... mas eu saberia que eu estou me preparando...
T: Certo... então... o que eu estou pensando é... na questão do seu comportamento... se você está lá se preocupando “eu tenho que fazer isso... e se eu não fazer isso ou aquilo vai acontecer”, então se eu olhasse para você se preocupando... iria parecer que você está fisicamente se preparando para fazer o trabalho?
P: Não... acho que não...
T: E o que isso diz para você?
P: Me faz pensar meio que eu não estou sendo a mais eficiente com meu tempo como eu poderia ser. Porque... eu acabo pensando muito nisso mesmo sem ter a tarefa que eu tenho que fazer na minha frente... então eu fico pensando como no fim do dia eu vou ter que fazer isso ou aquilo no trabalho, mas eu não tenho o trabalho na minha frente. Então se outra pessoa me visse me preocupando nessas horas... eu estaria lá me preocupando, mas não teria nada para fazer. Mas é mais nessas horas que eu penso mais... porque eu não estou fazendo o trabalho ainda. Então, não... não iria parecer que estou fisicamente me preparando...
T: Então... se preocupar demais, na realidade, não te ajuda se preparar... parece. Você diria que isso é preciso?
P: É... porque eu sinto que... agora que estamos falando sobre isso eu sinto que quando eu estiver com o trabalho, eu vou fazer ele mesmo assim... então... não.
T: E você pode fazer o trabalho sem ter que se preocupar antes?
P: Eu acho que sim... porque eu ainda nem saberia qual é o trabalho que eu tenho que fazer... então eu nem poderia fazer nada sobre ele até que eu saiba e esteja em casa...
T: Ok. Então... qual resposta a gente poderia dar para essa crença de que me preocupar me ajuda a me preparar?
P: Hum... pode ser... “me preocupar parece que me ajuda a me preparar mas quando eu pego o trabalho para fazer... eu simplesmente faço... e ela não me ajuda a me preparar”
T: E isso soa verdadeiro pra você?
P: Sim... porque falando sobre isso... parece que quando eu penso sobre as coisas... eu fico pensando repetidamente sobre elas mas eu acabo fazendo elas mesmo assim.
T: Ok... escreva essa resposta então. E isso meio que volta no que nós já falamos sobre a preocupação que é que a gente se preocupa com a intenção de se sentir melhor na maioria das vezes porque a gente pensa que “se eu estou me preocupando com isso eu estou fazendo alguma coisa”... mas no final das contas, não está levando para uma ação. Nós até falamos sobre o comportamento alternativo disso que seria “se preparar, planejar e resolução de problemas” e isso é na verdade uma ação que faz alguma diferença ao contrário de ficar tendo esses pensamentos e cenários catastróficos.
P: Ok.
T: Outra crença era essa ideia que me preocupar me ajuda a me sentir melhor. Nós acabamos de falar sobre isso... como que a preocupação te ajuda a se sentir melhor?
P: Eu provavelmente diria que a preocupação na realidade faz eu me sentir pior... e fazer as coisas faz eu me sentir melhor.
T: Pare então que eu não preciso fazer muito... hahaha não há necessidade de avaliação...
P: Hahaha, sim...
T: Ok... você pode escrever essa resposta então? Ela é perfeita.
P: Ok.
T: E isso meio que entra naquela metáfora da fogueira que nós usamos... onde, quando você fica dizendo para você mesma todos esses piores cenários... o seu corpo responde como se já tivesse acontecendo e fica alimentando a fogueira da ansiedade... quanto mais você alimenta essa fogueira com esses pensamentos, você mantêm ou aumenta o fogo. Então como você disse: você se sente preparada... mas isso não significa que você se sente bem ou relaxada... isso significa que você mantêm a ansiedade alí... é isso?
P: É... parece isso mesmo...
T: Outra crença que eu não acho que nós escrevemos na sua análise de custo e benefício, mas eu percebo quando você fala das suas preocupações... é pensar que a preocupação é algo incontrolável e que não tem nada que você pode fazer a respeito dela. Estou errado?
P: Não... é… eu sinto que isso aparece bastante e não é como se eu pensasse “nossa eu quero me preocupar”... ela simplesmente acontece... e parece que continua indo e eu não consigo fazer nada com ela e ela toma conta de mim.
T: Então parece que quando ela começa, ela te domina... e sua mente simplesmente se vai...
P: Isso!
T: Você consegue pensar em alguma preocupação recente ou alguma coisa que você está preocupada num futuro próximo?
P: Eu sinto que na maioria das vezes, envolve os trabalhos da faculdade e...
T: Algum trabalho que você tem que fazer que você está pensando ultimamente?
P: Eu estive pensando que se eu for boa o suficiente e se eu deveria estar no curso que eu estou ou se eu passei no vestibular por sorte... as vezes eu me preocupo...
T: ...Essa preocupação pode servir. Ok... o que eu quero que você faça é... vamos tentar um exercício. Eu quero que você comece a se preocupar com isso... simplesmente olhe par ao fim da mesa com olhar vago e deixe os pensamentos de preocupação acontecerem... “será que eu mereço estar aqui neste curso?”... “e se eu não for boa o suficiente?” – Tente fazer essas preocupações acontecerem.
[Espera de uns 15 segundos]
T: Ah... eu esqueci de te perguntar... pare por um minuto... como que foi a sua caminhada com sua amiga ontem?
P: Foi muito legal, eu gostei bastante de sair para caminhar com ela... gastar um pouco de energia...
T: É bom para desestressar não é mesmo?
P: Sim! Me ajuda a relaxar... parece que minhas tensões diminuem também...
T: Que legal!
P:E também...
T: Vamos parar por aqui. Você está preocupada no momento? Com pensamentos de preocupação?
P: Não...
T: O que isso diz para você? Eu primeiro fiz você se preocupar com a faculdade... e depois o que aconteceu quando nós começamos a falar sobre a caminhada com sua amiga?
P: Hum... eu fiquei só pensando sobre a caminhada...
T: E você não está mais se preocupando?
P: Não.
T: E o que isso te diz sobre a preocupação ser algo incontrolável?
P: Ah... parece que eu consigo focar em outra coisa... que eu tenho mais controle do que eu penso...
T: Ok. Você acha que pode escrever isso então?
P: Sim!
T: Isso é uma experiência comum que as pessoas possuem com a preocupação... de que a gente está se preocupando com alguma coisa e a gente sei lá... recebe um telefonema e aí começa a conversar com a pessoa... e porque você está focando em outra coisa... você não está mais se preocupando. Então... como você disse... você tem mais controle sobre a preocupação do que você acredita.
P: Sim!
T: A outra crença é a de que se preocupar ajuda você a se manter mais alerta na faculdade e no trabalho... eu sei que nós falamos sobre isso antes e essa crença parece ser uma crença bem forte... é meio que essa ideia de que eu tenho que me preocupar. Eu estava pensando que nós podemos fazer um experimento comportamental com essa crença. A ideia seria testar essa previsão durante a próxima semana... então um dia você vai se preocupar como você normalmente faz em seu dia... e em outro dia, você vai usar as estratégias de redução da preocupação que nós já falamos e vai verificar se há alguma diferença no resultado.
P: Ok!
T: O que você acha disso?
P: Acho que é possível...
T: Qual é a sua previsão do que pode acontecer?
P: Eu acho que nos dias que eu me preocupar mais... eu vou conseguir fazer mais coisas.
T: E nos dias que você não se preocupar em excesso?
P: Eu sinto que eu não serei capaz de fazer nada na faculdade e não conseguirei fazer meu trabalho direito quando chegar em casa.
T: Você não vai conseguir fazer nada direito ou vai atrasar ou...?
P: Se eu não estou me preocupando nenhum pouco... eu não vou conseguir completar as coisas que eu precise fazer e vou cometer mais erros.
T: Quão provável você acha que quando você se preocupar você vai conseguir fazer seu trabalho tranquilamente mas quando você não se preocupar você não vai conseguir fazer o que precisa e cometer mais erros?
P: Hum... eu acho que uns 85%...
T: E qual dia... eu estou pensando que pode ser bom dois dias que a sua carga de trabalho é a mesma... há dois dias assim ou todos os dias são similares?
P: Normalmente segunda feira é mais cheio de coisa, mas terça e quarta são dias praticamente iguais.
T: Eu acho que no primeiro dia seria se preocupar normalmente... então eu acho que seria na terça... e na quarta seria utilizar as estratégias de redução de preocupação. E teria algum lembrete ser colocado pra você lembrar de usar a redução da preocupação...
P: Eu acho que como é na próxima semana... eu vou lembrar.
T: Ok. E... vamos dizer que você não se preocupa e não consegue completar o que você precisa e comete mais erros... como você acha que conseguiria lidar com isso?
P: Eu acho que eu lembraria a mim mesma que é somente por um dia e que a gente falaria disso depois... eu acho que eu ficaria mal mas eu acho que no próximo dia eu poderia voltar e me lembrar que eu tenho tempo para me preocupar e conseguir fazer as coisas.
T: Ok... então eu coloquei que uma maneira de lidar com isso é simplesmente me lembrar que é apenas por um dia e eu posso levar isso para a terapia. Tudo bem?
P: Sim, isso.
T: A última parte disso seria na quarta feira depois do experimento, registrar meio que um resumo do que você percebeu entre os dois dias... tipo como você perceberá que você conseguiu fazer mais coisas em um dia do que no outro ou cometeu mais erros em um dia ao invés do outro?
P: Eu poderia contar a quantidade de tarefas que eu fiz cada dia... E eu posso fazer apenas uma verificação dos trabalhos para ver quantos erros eu cometi em cada dia.
T: Então você vai contar as tarefas que você conseguiu completar e os erros que você cometeu... verificando apenas uma vez.
P: isso!
T: E você acha que consegue registrar isso no fim de quarta-feira?
P: Sim!
T: Você quer dar uma resumida sobre o que nós fizemos?
P: Nós falamos sobre crenças sobre se preocupar de maneira excessiva, nós começamos com duas das minhas preocupações que nós conversamos no passado... e a gente conseguiu ver no que ela realmente me ajuda e uma outra maneira de olhar para elas.... e a gente também desenvolveu respostas para minhas crenças que são bem verdadeiras... e até fizemos um exercício pra mostrar que as minhas preocupações não são incontroláveis. A gente combinou também um experimento para próxima semana onde eu vou separar um dia para me preocupar normalmente e outro dia para usar estratégias para lidar com a preocupação e comparar os dois dias. Se o meu medo acontecer... eu vou me lembrar que só por um dia e eu posso falar sobre isso depois na terapia.
T: Ok! Muito Bom!